Yesterday by Iel

terça-feira, 24 de julho de 2012

Compartilhando mensagem de quem conhece nossa dor


Fortaleza-CE, 19 de junho de 2012

Querida Eveline, boa noite,
Eu sei o quanto dói a dor de uma saudade pela perda de um filho. Eu passei por isso. Não há palavras para esse sentimento. Questionamos: Como pode uma mãe prosseguir na caminhada terrena sem o seu rebento? Quando se perde um filho se enterra um pedaço da gente. Nunc mais voltamos a ser a mesma. E como a gente fica viva? Será que ficamos? Só Deus poderá responder, porque eu realmente não sei.
A hora é decisiva. Ou você opta por viver ou vai embora também. Decidi viver para criar minhas duas filhas. A dor passa? Não, nunca, porque eles (o meu e o seu) estarão sempres presentes em nossos corações. Somente o tempo faz você aprender a conviver com uns e a sobreviver sem outros. Sobreviver... não é exatamente viver...
Ainda não fui vê-la, mas creia que estou muito ligada a você desde o dia do triste acontecimento. Falei com a sua mãe e suas irmãs que gostaria de lhe dar um abraço e elas ficaram de me avisar o melhor momento que estou aguardando.
Hoje lendo essa mensagem da Marta Medeiros, lembrei-me ainda mais da nossa dor... da nossa saudade...
“A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.”
Que o Todo Poderoso nos dê a humildade de aceitar tão grande e dolorosa separação.
Abraços carinhosos da
Mazé Figueiredo

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