Yesterday by Iel

domingo, 13 de janeiro de 2013

Um empréstimo

Tem uma passagem em Gênesis 31 que fala de um pai que ao saber que seu filho havia morrido “...rasgou as vestes, vestiu-se de luto e chorou a morte do filho por muito tempo. Todos os seus filhos e filhas procuraram consolá-lo, mas ele recusava o consolo e dizia: De luto por meu filho descerei ao túmulo”.
É o que se tem vontade e muitos, inclusive eu pensam assim no início. Com o passar do tempo e cultivando a fé conclui-se que esse não é o caminho.
A vida é, antes de mais nada,  uma dádiva individual que nos foi emprestada. Mas quando temos filhos fica difícil pensar individualmente. Isso porque quando engravidamos a nossa ligação é completa e somos,  de fato, por algum tempo, dois em um. Talvez por causa disso mesmo depois do nascimento desse tão amado ser que, acalentamos, cultivamos e educamos com todo nosso carinho e dedicação, continuamos achando que não podemos existir sem ele.
Outro dia li declarações que me chamaram a atenção. Uma foi da modelo Gisele Bundchen que dizia: “As crianças são o nosso bem mais valioso, precisamos cuidar delas”. Outra foi da atriz Gwyneth Paltrow: “Nosso trabalho é preparar os filhos para o mundo”.
Bem diferentes as duas visões. A primeira contém explicita a falha tão comum que é a de pensar que os filhos são nossos. Eles são de fato valiosos mas não são bens e não são nossos. A segunda é bem mais realista que é preparar filhos para o mundo. No íntimo toda mãe mistura as coisas mas a verdade é que os filhos que tivemos não são nossos.
Há uma passagem no livro do antigo testamento, em Samuel 20 que fala da reação do rei Davi quando soube da morte de seu filho: “Então Davi se levantou do chão, lavou-se, perfumou-se e trocou de roupa. Em seguida voltou para casa, mandou que lhe servissem refeição e comeu.” É uma atitude de reagir, se levantar e viver. É o que precisamos fazer!
Afinal foi apenas um empréstimo de Deus, como diz o escritor José Saramago em Filhos são do Mundo: “... filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo!”

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